Quarentena, segunda semana

Não está fácil. Saí pela última vez de casa na Sexta, dia 14 de Março, há dez dias atrás. Devo corrigir: já saímos algumas vezes para o jardim para que eles (e eu) possam apanhar um pouco de Sol, ar fresco, esticar bem as pernas e gastar alguma da energia que vamos acumulando em casa. De resto, só os vi (pessoalmente) a eles e ao Mário desde esse dia.

Vi no outro dia uma fotografia de um grafitti que dizia que não devíamos romantizar a quarentena e, envergonhada, concordei com isso. Focados nos nossos agregados, nos nossos problemas de primeiro mundo, é simples esquecer que há quem não tenha já o que comer ou quem já não vá receber o próximo ordenado. Há quem esteja sozinho e vulnerável neste período, coisa que nunca tinha antes considerado antes de falar com a minha irmã, isolada sozinha há outros tantos dias ou com os meus pais e avó, agora impedidos de se verem diariamente e em grupos de risco diferentes. Há quem tenha sido abandonado em lares, há quem morra sozinho em hospitais sobrelotados, há quem se despeça dos familiares moribundos através de videochamada, há muitos que nem podem chorar devidamente os mortos.

Tenho aguentado o barco porque eles os três não podem ver-me triste a toda a hora mas às vezes as coisas são mais fortes do que eu. Há demasiada tristeza no Mundo para eu conseguir aguentar um dia sem chorar. E também há tantos gestos de bondade, de união e de salvação - são demasiadas emoções para uma pessoa como eu gerir em distanciamento social. A maioria dos meus colegas continua a trabalhar a partir de casa e ainda conseguem manter uma certa rotina mental mas eu, depois de tentar várias vezes trabalhar com eles em casa, desisti: preciso de muita concentração e não posso estar a ser interrompida pelas brigas, pelos gritos ou pelos três quando estão simplesmente aborrecidos. A minha chefe ligou-me num dia para sabe como iam as coisas e nem esse telefonema pude terminar sem que um deles acabasse a chorar aos meus pés porque alguma coisa não corria como esperado. Eles são pequenos, eu sei. Eu não os culpo de nada: afinal, se a mim me custa estar em casa sem contactar com outras pessoas, o que pensar então deles que passavam os dias rodeados de amigos e professores e de repente agora só me têm a mim, muitas vezes stressada e abalada emocionalmente? Vamos gerindo, é o que me tem feito não desanimar tanto.

De manhã, temos as horas dos trabalhos de casa que cumprimos religiosamente para manter alguma noção de normalidade na vida deles. Não sou especialmente exigente nas correções, quero apenas que eles trabalhem um pouco. Depois, um pouco de Sol no nosso pequeno jardim (as vezes que eu agradeço viver aqui e não num prédio de apartamentos) a tentar que eles corram um bocado e respirem fundo e não sintam que estão efectivamente numa prisão. O VIcente e a Amália tem sentido muito o impacto destes tempos e querem falar e ver os amigos, o Augusto não parece dar-se conta de nada. Se pensar no que quero quando tudo isto acabar, posso resumi-lo numa coisa: quero que os meus filhos possam voltar a descer a rua, contentes por irem para a escola. Sinto que lhes está a ser roubada uma parte tão importante da vida mas sei que é para o bem de todos nós.

Tenho cozinhado como não fazia há muito e coisas mais old fashion, como umas boas ervilhas com ovos escalfados. AInda não se sente falta de nenhum produto nos supermercados e temos tentado ir às compras o menos possível. Já fiz pão duas vezes, temos tido fruta fresca com frequência. Quando tudo começou, este era o meu maior medo (burguês): não termos acesso a comida fresca. Já se assistiu a alguns desentendimentos à porta dos supermercados mas as coisas continuam tranquilas.

Há ainda outros medos, ligados especificamente ao Luxemburgo. Primeiro, o da disponibilidade dos profissionais de saúde. Aqui, 70% dos profissionais de saúde vêm dos países fronteiriços, especialmente os enfermeiros e auxiliares e isso representa dois riscos: se as fronteiras fecharem completamente, estes profissionais podem ser impedidos de vir trabalhar e se a situação nos seus países de origem se agravar ainda mais, eles podem ser requisitados para trabalhar no seu país natal. O sistema de saúde luxemburguês funciona normalmente bem mas corre aqui duplo risco de colpasar. E depois, ligado com o meu medo da falta de produtos frescos, o encerramento total de fronteiras ia piorar com toda a certeza esta situação: o Luxemburgo é demasiado pequeno e, logo, não é auto-suficiente. *respirar fundo*

Por todo o lado, há pessoas a insipirar-me nestes tempos surreais. Há as mães que têm tudo programado e imenso jeito para os trabalhos manuais e há as mães que simplesmente vão deixando andar. Há quem fique em casa de pijama e há quem se arranje sempre como se fosse sair. Há quem cante ou leia para nós que estamos também em casa. Há arquivos de teatro e de cinema a abrirem ao público, há orquestras a disponibilizarem concertos também. Há editoras a oferecerem livros online, há aulas de yoga, crossfit e pilates, há sessões de cozinha ou simplesmente as pessoas com os seus diários também. Tenho tentado consumir menos informação mas às vezes é difícil não procurar as actualizações em tempo real. Valem-me três crianças cheias de vida, muitas vezes aborrecidas e a suspirar pela vida de antes mas que têm enfrentado este isolamento com aquela naturalidade que só elas conseguem. Há um marido que nunca desespera e consegue sempre olhar para o lado positivo das coisas, mesmo quando ele não parece existir. Há a família que está sempre lá, cumprindo a sua parte, dando aquela forcinha à distância. Há amigos que nos ligam oito anos depois da última vez que nos vimos só para saber como está tudo. E há aquelas noticias pontuais de que a China volta muito lentamente à normalidade. Eu sei que talvez nunca mais possamos ser normais mas caraças, vou chorar no dia em que os meus filhos voltarem a descer a rua para a escola.

Primeiros dias de quarentena

Nunca antes tive tanto a sensação de que há um antes e um depois. Nunca tive a sensação de que não posso sair desta sem ser uma pessoa totalmente diferente.

Estamos em casa desde Sábado. Não estou propriamente triste com isso porque afinal é estar no sítio onde me sinto melhor com todo o conforto e os pequenos luxos da vida normal mas é uma situação psicologicamente inédita para a maioria das pessoas que conheço. Nós nunca vivemos assim: supermercados a racionar comida, polícia a controlar os movimentos desnecessários dos cidadãos e o medo, o medo a toda a hora de que os próximos somos nós ou que podemos estar a contribuir para a doença de outras pessoas.

São cinco dias em casa com três crianças que, no início, estavam felizes com a perspectiva de “férias” da escola mas que começam a acusar este isolamento e a perguntar quando voltam às aulas. Eu gostava de lhes responder que temos mais uma semana e meia pela frente mas os sinais por todo o lado é que será muito mais tempo e eu não sei lidar com isso,

Ontem chorei de tristeza pela primeira vez. Por não saber quando vai acabar este distanciamento social, pela ideia das prateleiras vazias e das filas intermináveis, pela hipótese de estarmos meses assim, por estar longe da minha família e sem poder tomar conta de ninguém, pelas pessoas que morrem sozinhas, pelo pessoal de saúde que corre tantos riscos por nós, pelo pessoal dos supermercados e da distribuição, pelos governos que parecem saber exactamente o que fazer e pelos outros que ainda navegam à vista, pela nossa falta de liberdade. Procuro todos os dias sinais de esperança: as coisas a melhorar na China, os modelos matemáticos que ajudam a perceber a trajectória do vírus, os potenciais primeiros ensaios para uma vacina. E todos os dias me comovo com os vizinhos que cantam nas varandas, com as comunidades recém formadas para ajudar quem mais precisa, com as fábricas têxteis que escolhem desistir do seu negócio temporariamente para produzir material hospitalar, pelos artistas que no meio da incerteza difundem os seus concertos, os seus filmes, a sua arte para ajudar a aliviar a solidão de tanta gente. Comovo-me com as águas límpidas de Veneza, com a drástica diminuição da poluição, pelas avenidas vazias onde o silêncio impera e penso como isto tudo vai terminar numa inequívoca crise financeira e económica, um desastre sem precedentes, com tanta gente a precisar de salvação.

Percebo que muitos se insurjam com esta ideia de estado de emergência: a maioria de nós não sabe o que é viver longe dos outros e sem poder exercer todas as liberdades que nos foram concedidas por quem lutou antes de nós. Mas aceito esta perda de direitos temporária porque não imagino outra alternativa para estancar esta sangria. Os números são assustadores e não consigo entender como é que ainda não nos tocou a nós. Tiro a minha temperatura todos os dias e desconfio se tusso ou se me sinto mais cansada. Viver sem saber se se tem um inimigo em casa é brutal e cansativo.

A persiana da cozinha está avariada e agora o dia começa perto das seis e meia da manhã. Eles vêem a luz do dia e exigem que nos levantemos. Acordo várias vezes à noite para os tapar ou porque a minha cabeça continua ocupada pela noite fora. Sentia um aperto no peito que só acalmou depois de decretarem o fecho das escolas. Estou cansada e se calhar ainda nem passou sequer o começo. Estou triste e a fazer um esforço gigante para não me deixar abater. Busco coragem também na família, nos amigos e nos estranhos que partilham online como estão a viver este momento inimaginável. Olho para as nossas fotografias e penso “Ainda há uma semana não saímos de casa porque tínhamos preguiça…”. O grande exercício para mim não é entreter-me ou entreter os miúdos: é pensar que isto não vai durar para sempre, quando os sinais dizem o contrário.

Felizmente temos um pequeno jardim, onde podemos pelo menos apanhar ar e um pouco de Sol. E assim eu posso enganar esta sensação estranguladora de estar presa.

Nós vivemos numa área residencial muito calma. Não noto nenhuma diferença para os dias “normais”. Talvez apenas mais carros estacionados à porta de cada casa ou a ausência da agitação das manhãs de escola, quando o miúdos descem a rua de trotinete. De resto, silêncio as usual.

O que fizeram ao meu cérebro, putos?

Eu não sei se sou só eu ou se isto acontece a outras mães e pais mas sinto que estou a emburrecer. É claro que estou a envelhecer e nesse caminho vou perdendo a minha quota parte de neurónios mas o que eu sinto é que essa progressão não está a ser proporcional e está a acontecer muito mais rápido do que gostaria. Tento manter-me informada, tento ver/ler/ouvir coisas novas, tenho acompanhar o passo mas sinto muitas vezes que começo a ficar para trás.

Vem isto a propósito das perguntas que os nossos filhos nos fazem e para as quais eu não tenho uma resposta na ponta da língua. Parece até que me custa a articular as palavras e que não consigo desenvolver o mais básico raciocínio. Há uns anos atrás, e correndo o risco de parecer full of myself, eu sentia que compreendia as coisas e que as conseguia explicar. Não tinha muitas dúvidas existenciais e não estudei matérias muito complicadas mas sentia que tinha controlo sobre o meu próprio conhecimento. Agora, pedem-me para explicar uma coisa, qualquer coisa, e eu sinto-me a pessoa menos educada e articulada do mundo. Alguns exemplos dos exames que tenho sofrido:

Vicente: Mãe, qual é a nossa missão na Terra? Nós vivemos e isso mas o que viemos fazer?

Eu: …

*****

Amália: Porque é que os elefantes existem?

Eu: Erm…

Amália: Porque é que os nossos olhos estão a ver?

Eu: (ainda a recuperar da primeira pergunta) Erm…

Amália: Porque é que eu sou real?

*****

Fico com dúvidas sobre se isto é mesmo normal ou se calhar o resultado de mais de oito anos de privação do sono, por exemplo. Os meus níveis de cansaço às vezes eram tão altos que, ao fim do dia, não me lembrava como tinha chegado até ali. Por outro lado, não creio que seja um problema generalizado, já que no trabalho tenho continuado a aprender coisas durantes todos estes anos e a pô-las em prática facilmente. Se calhar, está é a ser difícil desmontar coisas que eu pensava saber ou tinha com garantidas, coisas que nunca tinha vocalizado mas em que tinha reflectido. De qualquer maneira, acho que nunca discuti estas questões durante a minha vida e essa é sem dúvida uma falha minha. Mas esta é a maravilha de educar filhos a dois: quando só me sai uma alarvidade qualquer ou quando me faltam as palavras para responder às questôes deles, o pai intervém e ajuda-me com as suas explicações curtas e simples. Se bem que às vezes não há explicação possível…

Vicente: Mãe, como é que os dinossauros faziam chichi?

Amalinha, cinco anos a dar-nos cabo da cabeça!

Eu devia ter adivinhado pela maneira intempestiva como chegou ao mundo. Amália chegou numa manhã gelada de 2015, sem dar oportunidade à epidural e sem esperar para nascer! E hoje completa cinco anos de vida, os mais intensos da minha vida!

Ainda tem muitos problemas em sentar-se quieta na escola e a professora às vezes não parece saber o que fazer com ela. É aplicada nas coisas que faz, desenha bem para a idade que tem e sempre coisas de menina (coelhos, gatos, unicórnios, os membros da família). Mas também é maria rapaz e gosta de jogar à bola com os irmãos, trepa móveis e muros como se não soubesse o que é o medo, não é esquisita a escolher o desenhos animados que quer ver. Anda muito orgulhosa das primeiras letras que sabe desenhar e pede muitas vezes para copiar coisas. Consegue identificar os nossos nomes e o nomes dos amigos só de olhar para as letras mas muitas vezes é ansiosa por pensar que não vai saber reproduzir a mesma sequência de letras.

Não me parece que tenha muitos amigos. Brinca muito sozinha e consegue inventar a suas brincadeiras sem interferência de ninguém. Dá-se melhor com adultos do que com crianças mas parece, mesmo assim, ser relativamente popular nos círculos sociais (escola, tempos livres). Come cada vez menos e pior. Quando era pequenina, comia tudo o que lhe púnhamos à frente e sem reclamar ou afastar algum alimento do prato. Hoje em dia, não gosta de quase nada e precisamos muitas vezes de negociar/chantagiá-la para conseguirmos que coma o mínimo possível.

Não a conseguimos obrigar a fazer nada. Mesmo com ameaças de castigo, ela insiste e leva a sua avante até não poder mais. A única coisa que resulta é falar, falar muito e explicar as coisas e os porquês para que ela possa mudar de ideias. Claro que um par de gritos vai muito longe mas preferíamos que isso não tivesse de acontecer. Birras? Ainda são muitas e intensas, porque esta miúda não veio ao mundo para fazer as coisas de mansinho. Mas já as vamos controlando mais e já são um pouco menos longas do que, por exemplo, há um ano atrás. É a heroína e o modelo do irmão mais novo, que a segue e imita por todo o lado e detesta isso. Mas brincam muitos os dois: afinal, a diferença de idades é menor do que entre ela e o Vicente. A pior coisa que lhe pode acontecer é o Vicente não querer brincar com ela, o que - adivinhem lá - acontece muito frequentemente…

Ela mudou a minha vida por completo. Todos eles mudaram, à sua maneira e a seu tempo, mas ela fê-lo de maneira radical e impossível de ignorar. Ela estica a minha paciência a sítios que pensava não existirem, ela faz-me perder as estribeiras com as suas exigências irracionais mas ela também me mostrou o que é amar alguém tão intenso e over the top de maneira incondicional. Ela é, entre os nossos filhos, a que mais me preocupa porque a vida não é fácil para quem não consegue controlar bem as suas emoções, para quem é menos sociável do que é esperado, para quem vive tudo como se fosse a última vez. Mas ela descansa-me também com o coração grande e cheio de empatia, com a sua curiosidade por tudo, com o sentido de humor bem particular. Amália, há cinco anos a centrifugar a minha calma e a ensinar-me que não há nada que uma noite de sono não possa aliviar!

Nova Iorque em Outubro

Ainda antes deste blog renascer, fui a Nova Iorque pela segunda vez. Em 2014, tínhamos lá estado durantes uns três dias mas dormíamos em New Jersey e por isso todos os dias cruzávamos o rio Hudson pelo túnel Lincoln num daqueles autocarros que vai cheio de pessoas que vivem nos subúrbios mas trabalham na cidade. Dest vez, e porque viajava com a minha irmã (em vez de com o meu marido), decidimos ficar mesmo no centro de Manhattan para evitar estas deslocações e para estar mesmo perto de tudo.

Mesmo sendo a minha segunda vez, foi uma viagem incrível. Sentia que conhecia já bastante bem a cidade e lembrava-me ainda dos detalhes da primeira vez. É evidente que em quase seis anos a cidade mudou imenso mas foi relativamente fácil a nossa orientação. É curioso que hoje em dia, quase três meses depois, ainda tenho memórias muito vívidas sobre a viagem e ainda me lembro frequentemente de tudo o que fizemos.

Fizemos muitas coisas novas mas eu também repeti algumas visitas: visitámos Coney Island, onde comemos um desconsolo de crab cake e onde quase fizemos chichi nas cuecas nos carroseis do parque de diversões. Estava um dia incrível, quente e sem vento e, mesmo sendo um dia de semana, o passadiço à beira mar estava cheio de gente a praticar desporto ou só a aproveitar o dia que parecia de Verão; passeámos em Brooklyn meio sem destino e acabámos a comprar discos de vinil na Rough Trade e a comer uns tacos bem bons; andámos setenta quilómetros em seis dias e isso notou-se bem nos nossos pés mas também em músculos que nem sabíamos que tínhamos.

Vimos uma peça na Broadway (The Book of Mormons) e rimos muito, depois de apanhar a maior chuvada da vida a caminho do teatro; subimos aos obrigatórios Empire State Building e Top of the Rock, regalámos os olhos no Met (o Moma estava fechado para remodelações); visitámos livrarias, comemos ramen, atravessámos a ponte de Brooklyn a pé e depois comemos um gelado e eu tricotei com Nova Iorque como pano de fundo. À parte do primeiro glorioso dia, fez bastante frio e houve zonas em que o vento era quase impossível de suportar mas quem quer ver coisas sujeita-se a muita coisa. Nova Iorque é apaixonante mas ao mesmo tempo deprimente: a quantidade de sem abrigos, a distinta sensação que muita gente trabalha quase só para aquecer, muita gente mais velha que já devia estar reformada ainda a trabalhar, a sujidade das ruas, os sítios onde era quase impossível meter pé.

Pensei que fosse daquelas cidades que vemos uma vez e está visto mas descobri, com esta segunda visita, que é mais daquelas cidades onde vale muito a pena voltar e simplesmente deixarmo-nos levar pela vida quotidiana. Caminhar muito para todo o lado e evitar o sistema de transportes muitas vezes a abarrotar, ouvir tantas línguas diferentes à nossa volta, sentirmo-nos verdadeiramente no centro do mundo, onde tudo acontece e, principalmente, onde tudo é possível. Mas naquela típica análise que se faz depois de conhecer uma cidade nova: não, não gostava de viver lá. Apenas voltar uma e outra vez, com a certeza de que posso depois regressar ao conforto e falta de agitação deste pedaço de velho mundo.

Desejos para 2020

Decidi escrever os meus desejos para 2020 e não as minhas resoluções.

Estava reticente, confesso. Por um lado, resoluções soa-me demasiado a obrigações e eu não quero chegar ao final do ano cheia de culpa se alguma das minhas resoluções falhar. Mas por outro, colocar estes desejos por escrito ajuda-me a organizá-los na minha cabeça. E o facto de os enviar assim, para o Mundo, faz com que me sinta mais responsável por vê-los efectivamente realizados. Primeiro, escrevi-os no meu caderninho de bolso, que se tem revelado numa preciosa ajuda para pôr as ideias em ordem.

Mudar de emprego/trabalho/posição

Em questões de trabalho, mais ainda do que noutras áreas, o meu lema é Quem está mal, muda-se. eu não estou propriamente mal: trabalho com pessoas de quem gosto para uma empresa que me deixa gerir o meu horário de maneira mais ou menos flexível fazendo coisas de que descobri gostar. Mas, depois de trabalhar quase oito anos no mesmo sítio, sinto-me a estagnar um pouco e também que não há muito mais espaço para a minha progressão.

Talvez a pior coisa que esta sensação me traz é a ideia de que estou a ser ingrata para uma empresa que me deu tanto e que até foi acreditando em mim ao longo dos anos. É por isso que não digo apenas Mudar de emprego: eu equaciono ficar aqui, se outros desafios se apresentarem ou se me considerarem para outras posições. Ficar simplesmente como estou é que não é a solução. Em teoria, só dependo de mim para mudar e decidi que este ano a coisa deve dar-se.

Brincar mais com os meus filhos

Normalmente, nas relações pais/filhos, parece existir sempre o progenitor que brinca e o progenitor que cuida. Adivinhem qual sou eu… Não consigo voltar a brincar, não tenho paciência para me sentar entre os três a montar um set de Lego, não sou mãe para me deitar no chão e deixar que eles me sufoquem numa brincadeira qualquer. A isto devo somar que as nossas circunstâncias familiares (uma família com três filhos, a viver num país estrangeiro, em que os dois pais trabalham e sem ajuda de família ou amigos) fazem com que me sinta muitas vezes mais cansada do que gostaria.

Mas não vivo bem com isto. Vejo como o pai às vezes se dedica exclusivamente às coisas deles e sorrio, apreciando silenciosamente a sua paciência. E às vezes, para brincar, não é preciso muito: às vezes chega estar sentada no sofá, com eles deitados no colo, alternando as cócegas nas costas a cada um. E isto deve ajudar a reduzir o nível de stress com que chego a casa muitos dias.

Encontrar algum trabalho voluntário

Este desejo deve ser o mais difícil de concretizar, embora seja de longe o mais urgente. É impossível ficar indiferente ao que se passa no mundo nos dias que correm: os incêndios na Austrália, os números assustadores de violência doméstica sobre mulheres um pouco por todo o mundo, os retrocessos civilizacionais como a penalização do aborto ou a criminalização da homossexualidade, o assustador re-aparecimento da extrema-direita por toda a Europa… Enfim, podia passar aqui um bom bocado a enumerar tudo o que me deixa ansiosa e pensativa.

Falo pouco sobre como estas coisas me fazem sentir em todas a minhas redes sociais com algum medo de não saber articular o que penso e porque acho que é mais importante agir do que opinar (embora a partilha seja uma arma indispensável para lutar por um mundo melhor). Mas penso muito nisto tudo, choro com as notícias, tenho pesadelos que são apenas uma repetição da realidade e tudo isto me deixa muito ansiosa em relação ao futuro dos nossos filhos. Eu acho que consigo aguentar tanta miséria, amargura, destruição. Mas e eles, conseguirão?

Tenho muito pouco tempo livre, é um facto. Mas tenho esperança de poder arranjar maneira de me voluntariar para ajudar alguma destas causas, mesmo que seja online (traduzindo ou revendo textos, como já fiz antes).

Sair mais de casa

Tenho a incómoda sensação de que quando éramos apenas pais do Vicente saímos muito mais de casa. E é normal que assim fosse: ele era só um, a logísitica era mínima e tomar conta dele era bastante fazível - afinal, ele era só um e nós éramos dois…

Mas com a chegada dos outros filhos, as coisas complicaram-se. Todas as manhãs, é difícil ter os três vestidos rapidamente, por exemplo. E às vezes falta-nos a vontade de os levar a qualquer sítio onde possam incomodar pessoas com as (mais que certas) birras e discussões. Entendo que tudo isto é normal para três crianças com muita coisa por aprender mas muitas vezes é desencorajador. Se somarmos a isto a sentimento geral entre nós no ano que passou (as questões de saúde, as pessoas que nos foram deixando), não é difícil perceber que muitas vezes ficar em casa era a solução mais prática e mais desejada.

Mas não este ano. Este ano, quero sair mais com eles (sempre que o tempo e a meteorologia o permitirem), nem que seja até ao parque ou à floresta que temos quase à porta de casa. Eles precisam do ar puro e das energias dispensadas nas correrias e brincadeiras, nós precisamos de respirar e deixá-los ser crianças sem medo de julgamentos ou falhanços.

Irritar-me menos

Esta dava pano para mangas. Odeio dizê-lo mas tudo me irrita: a colega que passa o dia inteiro a cantar para toda a gente ouvir, os condutores que não deixam outros condutores entrar numa faixa, as pessoas que param o carrinho de compras no meio do corredor, os condutores que estacionam sem pensar nos outros, os pais dos colegas dos nossos filhos que às vezes fingem que não nos conhecem… enfim, vocês percebem. Muitas vezes, o stress e a falta de tempo verdadeiramente para mim faz com que me irrite com os miúdos pelas coisas mais parvas e, necessariamente, arrepender-me no segundo a seguir.

Não sei como vou conseguir pôr este desejo em prática mas vai ter de acontecer. Posso voltar a tentar meditar, fazer mais exercício, arranjar uma estratégia mental para não me deixar afectar pelos chicos espertos desta vida - alguma coisa há-de funcionar. Ou qualquer dia caio para o lado com os nervos.

Aprender a tricotar (cores e torcidos) e melhorar os meus acabamentos

Facto: preciso de aprender a organizar (ainda) melhor o meu tempo. Há muitas coisas que quero fazer nesta vida, muitas séries para ver, muitos livros à espera na mesa de cabeceira, muitas camisolas por tricotar. Mas, acima de tudo, há uma janela gigante para aprender muitas coisas novas, graças a uma coisinha chamada internet. Quase tudo o que aprendi sobre tricot até agora, aprendi na internet, procurando recursos online ou mesmo em papel, admirando o trabalho dos outros e sonhando com o dia em que chegarei aos calcanhares de tantas estrelas que fui conhecendo.

Por isso, este ano preciso reduzir o meu consumo irreflectido e oco de redes sociais e dedicar mais tempo à actividade que mais me relaxa e me realiza neste momento.

Escrever mais

Aqui e não só.

Ler mais

Diminuí o meu desafio Goodreads este ano: passei de achar que ia ler 15 livros no ano passado para achar que vou ler 12 em 2020. Está muito longe do que já li em tempos mas, considerando todos os pontos anteriores, acho que seria já uma vitória.

E vocês? Fazem resoluções quando o ano muda ou não acreditam assim muito em novos começos?

Ser portuguesa no Luxemburgo

Esta conversa aconteceu ontem, num atelier duma costureira Luxemburguesa.

(eu a soletrar-lhe o meu nome para ela escrever no recibo)

Ela: Ah, é italiana?

Eu: Não, sou portuguesa.

Ela: Humm, é que não parece…

Eu: Porquê? Por causa dos meus cabelos brancos?

Ela: Sim. Mas também pela maneira como fala.

Eu: Ah sim? Falo como?

Ela: Como uma francesa…

A minha opinião sobre a aceitação e integração dos estrangeiros no Luxemburgo é bastante cautelosa. Por um lado, é inegável que a sociedade luxemburguesa acolhe e tenta integrar a quantidade impensável de estrangeiros que vivem aqui ou que chegam aqui todos os anos, Basta pensar que, em pouco mais de 600 mil habitantes, 290 mil são estrangeiros. E destes, quase cem mil são portugueses (fonte).

O país tem três línguas oficiais (o Francês, o Alemão e o Luxemburguês) mas em alguns serviços públicos há também suporte e documentação em Português e o Inglês também é aceite em quase todo o lado. Só na cidade do Luxemburgo convivem cerca de 160 nacionalidade diferentes - por si só, este é um indicador do forte multiculturalismo que se vive por aqui. Há imensas manifestações culturais (e até religiosas) de vários cantos do mundo, como por exemplo a peregrinação a Wiltz (no Norte do país), onde se encontra um santuário de Nossa Senhora de Fátima.

Devo dizer, no entanto, que a minha experiência com alguns cidadãos luxemburgueses vai no sentido totalmente inverso desta aparente integração. Bastou-me muitas vezes dizer que sou portuguesa para o tom de uma conversa passar de amigável para seco. E não ajuda, o facto de não saber falar Luxemburguês: é totalmente visível que as pessoas que falam a língua têm um tratamento diferente, nem que seja pelo maior à-vontade durante uma conversa no supermercado, num gabinete médico ou numa reunião escolar. Tento não julgar os luxemburgueses: afinal, não deve ser agradável este sentimento que a sua língua, cultura e tradições podem estar condenadas a desaparecer neste pequeno mais intenso melting pot. Não é à toa que o lema dos luxemburgueses é Mir wëlle bleiwe wat mir sinn, que se traduz por qualquer coisa como Queremos ser como sempre fomos. É um lema muito bonito, de conservação do património linguístico e cultural e que demonstra o esforço (muitas vezes inglório) para não sucumbir às influências daqueles que vão construindo e modificando o país. Também se pode argumentar que é um símbolo de alguma falta de horizontes mas eu cá prefiro a primeira versão.

Também não é à toa que a animosidade dos luxemburgueses para com os portugueses possa ser mais exacerbada. Os portugueses representam neste momento 16% da população total do Luxemburgo e há quem diga 25% da população activa. Há pequenas vilas onde se fala mais Português do que outra língua qualquer, há cafés, restaurantes e mercearias especializados em produtos portugueses, há clubes de futebol a replicar os clubes portugueses (como este), o português é a língua mais falada onde quer que exista alguma construção. Mas é bom também não esquecer que há décadas que os portugueses ajudam este país a crescer, muitas vezes à custa das suas próprias famílias ou de uma vida verdadeiramente digna. Há décadas que nascem portugueses aqui que, à força dos anos que vão passando, se vão naturalizando e assimilando cada vez mais a cultura luxemburguesa, guardando apenas o seu amor a Portugal mas aquelas três semanas de férias. A flexibilidade e a capacidade de adaptação dos portugueses faz com que estejamos espalhados por todo o mundo e por isso não é surpreendente que estejamos também implantados aqui,

Estereótipos, como em tantos outros países, há muitos. Simplificando, os portugueses não passam de serventes de pedreiros (eles) e empregadas de limpeza (elas); os franceses tomam conta do comércio e restauração; os italianos são bons é nas mercearias… Os luxemburgueses esquecem-se muitas vezes que há pessoas para todos os cargos e sectores da sociedade de todas as nacionalidades. Mas em Portugal acontece o mesmo com os brasileiros, por exemplo.

Pouco depois de chegar ao Luxemburgo, fui com o Mário inscrever-me no Centro de Segurança Social para obter o número que basicamente prova que tu existes dentro desta sociedade. O funcionário que nos atendeu, mesmo depois de verificar os formulários com a nossa informação, perguntou ao Mário quantas mulheres tinha. Em 2012, de um cidadão europeu para outro cidadão europeu. Enfim, casos como estes são isolados e provam ou a extrema ignorância de uma pessoa ou a sua inclinação para ser apenas maldosa e colocar-nos naquele que ela pensava ser o nosso lugar. Mas o nosso lugar é aqui, num país que aprendemos a amar e a odiar às vezes, num país de que sentimos falta quando estamos fora. E, sinceramente, o nosso lugar é em qualquer parte do mundo onde possamos ser úteis, onde nos sintamos em casa, onde os nossos filhos possam crescer felizes e em segurança. Mas há sete anos que assentámos arraiais aqui e, mesmo que nos torçam o nariz assim que descobrem a nossa nacionalidade, é esta a nossa casa.

Não sou grande espingarda a socializar

Ontem participei num evento para mulheres que trabalham em áreas mais técnicas. Este evento é organizado por uma associação sem fins lucrativos em todo o mundo e tem como objectivo ajudar a atingir a paridade de géneros numa área que é - todos o sabemos - maioriariamente masculina. Alguém desta organização procura perfis de mulheres que encaixem nestes objectivos e convida-as a participar.

Esta não foi a primeira vez que fui convidada mas foi a primeira vez que decidi ir. Pensei que seria interessante sair um bocado da minha zona de conforto, falar com deconhecidos, tentar perceber se o mercado de trabalho mudou significativamente desde a última vez em que activamente procurei emprego, experimentar pôr-me mais out there. Como em muitas outras ocasiões, estive quase a desitir à última da hora porque não suporto a ideia de estar numa situação em que tudo é estranho: o sítio, as pessoas, o objectivo. Mas como estou a tentar ser uma pessoa melhor ou, sobretudo, diferente, aguentei-me e fui.

Não sou pessoa de meter conversa com ninguém e também não sou muito boa a manter toda uma conversa com estranhos mas, enquanto esperávamos pelo início do evento, consegui falar com duas americanas que me contaram muito mais sobre a sua vida do que aquilo que eu queria saber (uma tinha recebido uma factura do arranjo do carro ontem e precisava de um copo de vinho, à outra só faltava uma placa ao pescoço a dizer Eu sou a maior technical writer que alguma vez vais conhecer na vida.). Só eu sei como foi difícil manter o contacto visual e conseguir fazer alguma pergunta no meio de tanto bla bla bla.

No evento, estavam algumas empresas a recrutar para postos mais técnicos. A ordem de trabalhos era comida + bebida (mini sandes de tomate seco e fiambre, bolachinhas com creme de abacate, dois copos de tinto para mim) -> breve apresentação das empresas participantes -> uma espécie de speed interviewing, em que íamos passando pela mesa de cada empresa numa mini-entrevista de 5 minutos. Eu lá fui armada com os meus currículos e os meus cartões de visita e pronta para dar a volta à coisa, que eu na verdade não estou à procura de emprego. Percebi, antes das apresentações, que a maioria das pessoas que ali estava tinha formações mais técnicas e mais adequadas ao evento em si e isso fez com que eu ficasse ainda mais auto-consciente - mas afinal o que vim eu aqui fazer?

Logo na primeira entrevista, o rapaz diz-me que sim senhor mas só estão a contratar pessoas mais séniores. Na segunda, uma das entrevistadoras parecia aborrecida com o que eu estava a dizer, outra olhava constantemente para a porta. Promissor, pensei eu. À terceira, tive um bocadinho mais de sorte e apanhei três raparigas de três nacionalidades diferentes que gostaram que eu falasse muitas línguas. Primeiro (e único) ponto positivo da noite. Quando ia para a quarta entrevista, começaram a entrar outras pessoas e eu resolvi fazer uma pausa para mais uma mini sandes e um mini copo de vinho. Afinal, a pausa não foi pausa e eu resolvi pegar no meu casaco e voltar para casa.

Ainda assim, eu acho que valeu a pena. Fiquei a perceber como funcionam estes eventos, aprendi coisas sobre outras empresas, comi e bebi um bom tinto. Mas também me lembrei como não sou uma pessoa que sabe socializar. Não sei (nem quero, normalmente) meter conversa e depois mantê-la além daqueles segundos iniciais, não quero contar a minha história a estranhos, não quero que eles me contem a deles a não ser que me pareça interessante, não quero ter de abanar a cabeça quando o que me apetece dizer é Tu estás é cheio/a de tretas. Sou uma nódoa socialmente, eu sei. Não parecer descontraída, não sei relaxar, nem falar por falar. Sei só ficar ali a observar, em silêncio, até que alguém nos chama para começarem as actividades. Sei que estas coisas se trabalham mas também que é preciso querer. E eu não estou certa que quero. Não ajuda odiar pessoas no geral (menos os meus leitores, claro! ^^) mas isso fica para um outro post.

Quando nada nos faria prever...

Ontem à noite, num dos mercados de Natal da capital, morreu uma criança com dois anos. Perto de um ringue de patinagem, uma estátua de gelo encomendada para o evento aparentemente derreteu e um bloco de gelo com algumas centenas de quilos caiu em cima da criança. Fim da história.

Não que alguém se dê ao trabalho de me perguntar alguma coisa mas se alguém me perguntasse porque não acredito em Deus, a minha resposta seriam estas histórias. Estes acontecimentos trágicos e absurdos, a rasgarem a normalidade em mil pedaços, sem respeito pela ordem natural das coisas. Aqueles momentos em que o som apenas nos chega abafado e ganhamos a consciência que a nossa vida acabou de mudar, antes mesmo de um segundo ter passado. Aquela dor que às vezes imaginamos (e se ele me tivesse largado a mão e corrido para a estrada? E se o carro não tivesse travado? E se não tivéssemos dado pela falta dela naquele minuto exacto? E se ele se debruçasse demasiado contra a nossa vontade?) mas que não podemos nunca prever nem aceitar, racionalmente, como uma possibilidade.

Tremo, só de pensar. Ninguém merece, ninguém imagina, ninguém antecipa. Os perigos à nossa volta multiplicam-se mas não há como viver sempre a pensar numa desgraça. Espanto-me muitas vezes com a nossa fragilidade e com a constatação de que a morte se esconde onde menos se espera e quando menos se espera. Vivemos primeiro agarrados à esperança de que nunca vamos morrer, depois abraçados à ideia de que existe realmente uma ordem natural e os filhos hão-de ir depois dos pais. Escapamos a guerras, à fome e à doença, vivemos em paz e abundância para um dia, imediatamente antes de lhe calçarmos uns patins ou antes de lhe comprarmos uma salsicha, nos morrer um bebé. Assim, sem mais nem menos.

Lamento o meu último post. Lamento queixar-me assim porque, no final de contas, os meus filhos estão vivos e eu não preciso acordar sem vontade de viver. Lamento não agradecer mais a dádiva que é ralhar-lhes, dar-lhes banho enquanto eles gritam, enfiá-los na cama quando não querem jantar. Lamento não conseguir muitas vezes ver além da espuma dos dias e apreciar a vida que temos. E, para não me moer com remorsos, prometo relativizar mais, perdoar mais, aceitar mais, deixar os ses para depois.