Cinquenta e cinco dias de quarentena
Tive que fazer um esforço para contar os dias que passaram desde que as escolas fecharam e ficámos em casa. No dia anterior ao anúncio, tinha falado com a minha chefe porque a possibilidade era real e eu estava a preparar-me para trabalhar a partir de casa. Ela não concordava muito com a ideia (na minha empresa, o teletrabalho não era bem aceite e muito menos bem visto. Estou curiosa para perceber se esta ideia mudou entretanto) e esperava ver-me na Segunda a seguir. Fast forward dois meses e aqui estou eu, tentando inventar um equilíbrio entre tomar conta de três filhos e trabalhar, mesmo estando de licença para (exactamente!) tomar conta dos filhos.
O nosso desconfinamento vai começar na próxima semana. Nesta semana, os consultórios médicos já retomaram a actividade habitual mas só para a semana que vem as lojas vâo reabrir, o que (imagino eu) vai implicar maior movimento de pessoas. As turmas dos anos finais já regressaram à aulas esta semana e todos os alunos e pessoal docente e não docente tiveram a oportunidade de serem testados antes do regresso. A taxa de absentismo foi de apenas 4%, sendo que havia a possibilidade dos alunos continuarem a ter aulas a partir de casa. No nosso caso, continua (com muitos pontos de interrogação) a valer a data de 25 de Maio. Aqui em casa, decidimos que o melhor é eles regressarem agora, especialmente o mais pequeno que sente verdadeiramente falta de crianças da idade dele (é o único que não teve contacto com os amiguinhos durante todo este tempo). Confiamos nos planos do governo e sabemos que podemos sempre voltar a atrás em caso de probl e emas.
Os casos confirmados por aqui reduziram drasticamente (entre 8 e 12 nos últimos dias) e as mortes não chegam ainda à centena. Se todos cumprirmos com as regras de distanciamento social e com as regras de higiene respiratória, acredito que podemos vencer isto num par de meses. É evidente que a reabertura das fronteiras e o retomar dos voos poderão significar os contágios vindos do exterior mas é francamente difícil impedir a livre circulação durante muito mais tempo. O Luxemburgo decidiu testar toda a população, projecto que arranca na próxima semana. A população vai ser dividida em contingentes e todos serão testados para a presença do vírus num primeiro momento. Depois, poderão seguir-se os testes serológicos para determinar a imunidade de grupo mas esse passo ainda não é certo.
O Mário continua a trabalhar como antes, só alternando alguns dias entre o escritório e o trabalho a partir de casa. Já eu entro oficialmente em layoff no dia em que as aulas recomeçarem e não sei muito bem o que pensar. Está previsto durar até Julho mas, visto a situação catastrófica do turismo em todo o mundo, vejo isso como uma data demasiado optimista. Continuo preocupada com os meu trabalho e tento encontrar alguns minutos todos os dias para tratar de coisas pendentes. Tenho uma colega que vai ajudando mas eu continuo a ter responsabilidades que não pude passar-lhe antes do isolamento. É um sentimento de culpa constante porque supostamente estou de licença para me dedicar aos miúdos mas não posso simplesmente desligar de tudo, especialmente não numa época como esta. Melhores dias virão…
E é claro que com a aproximação do Verão começo a pensar em férias. Há um ano que não vejo a minha família e os nossos amigos e não me parece também que isso vá acontecer tão cedo. Mesmo sabendo de todas as interdições e regras que imperam por toda a parte, o simples facto das fronteiras estarem fechadas impede que possamos sequer fazer planos. Já eliminei praia e piscina das coisas que gostava de fazer mas gostava pelo menos de ver os meus pais, avós e irmã e de poder jantar com os amigos. Vai ser duro se tudo tiver de ser adiado ainda mais mas cá estaremos para aguentar o que ainda está para vir. Se fizerem favor, bebam aí uma mini por mim…