Nova Iorque em Outubro

Ainda antes deste blog renascer, fui a Nova Iorque pela segunda vez. Em 2014, tínhamos lá estado durantes uns três dias mas dormíamos em New Jersey e por isso todos os dias cruzávamos o rio Hudson pelo túnel Lincoln num daqueles autocarros que vai cheio de pessoas que vivem nos subúrbios mas trabalham na cidade. Dest vez, e porque viajava com a minha irmã (em vez de com o meu marido), decidimos ficar mesmo no centro de Manhattan para evitar estas deslocações e para estar mesmo perto de tudo.

Mesmo sendo a minha segunda vez, foi uma viagem incrível. Sentia que conhecia já bastante bem a cidade e lembrava-me ainda dos detalhes da primeira vez. É evidente que em quase seis anos a cidade mudou imenso mas foi relativamente fácil a nossa orientação. É curioso que hoje em dia, quase três meses depois, ainda tenho memórias muito vívidas sobre a viagem e ainda me lembro frequentemente de tudo o que fizemos.

Fizemos muitas coisas novas mas eu também repeti algumas visitas: visitámos Coney Island, onde comemos um desconsolo de crab cake e onde quase fizemos chichi nas cuecas nos carroseis do parque de diversões. Estava um dia incrível, quente e sem vento e, mesmo sendo um dia de semana, o passadiço à beira mar estava cheio de gente a praticar desporto ou só a aproveitar o dia que parecia de Verão; passeámos em Brooklyn meio sem destino e acabámos a comprar discos de vinil na Rough Trade e a comer uns tacos bem bons; andámos setenta quilómetros em seis dias e isso notou-se bem nos nossos pés mas também em músculos que nem sabíamos que tínhamos.

Vimos uma peça na Broadway (The Book of Mormons) e rimos muito, depois de apanhar a maior chuvada da vida a caminho do teatro; subimos aos obrigatórios Empire State Building e Top of the Rock, regalámos os olhos no Met (o Moma estava fechado para remodelações); visitámos livrarias, comemos ramen, atravessámos a ponte de Brooklyn a pé e depois comemos um gelado e eu tricotei com Nova Iorque como pano de fundo. À parte do primeiro glorioso dia, fez bastante frio e houve zonas em que o vento era quase impossível de suportar mas quem quer ver coisas sujeita-se a muita coisa. Nova Iorque é apaixonante mas ao mesmo tempo deprimente: a quantidade de sem abrigos, a distinta sensação que muita gente trabalha quase só para aquecer, muita gente mais velha que já devia estar reformada ainda a trabalhar, a sujidade das ruas, os sítios onde era quase impossível meter pé.

Pensei que fosse daquelas cidades que vemos uma vez e está visto mas descobri, com esta segunda visita, que é mais daquelas cidades onde vale muito a pena voltar e simplesmente deixarmo-nos levar pela vida quotidiana. Caminhar muito para todo o lado e evitar o sistema de transportes muitas vezes a abarrotar, ouvir tantas línguas diferentes à nossa volta, sentirmo-nos verdadeiramente no centro do mundo, onde tudo acontece e, principalmente, onde tudo é possível. Mas naquela típica análise que se faz depois de conhecer uma cidade nova: não, não gostava de viver lá. Apenas voltar uma e outra vez, com a certeza de que posso depois regressar ao conforto e falta de agitação deste pedaço de velho mundo.