Não sou grande espingarda a socializar

Ontem participei num evento para mulheres que trabalham em áreas mais técnicas. Este evento é organizado por uma associação sem fins lucrativos em todo o mundo e tem como objectivo ajudar a atingir a paridade de géneros numa área que é - todos o sabemos - maioriariamente masculina. Alguém desta organização procura perfis de mulheres que encaixem nestes objectivos e convida-as a participar.

Esta não foi a primeira vez que fui convidada mas foi a primeira vez que decidi ir. Pensei que seria interessante sair um bocado da minha zona de conforto, falar com deconhecidos, tentar perceber se o mercado de trabalho mudou significativamente desde a última vez em que activamente procurei emprego, experimentar pôr-me mais out there. Como em muitas outras ocasiões, estive quase a desitir à última da hora porque não suporto a ideia de estar numa situação em que tudo é estranho: o sítio, as pessoas, o objectivo. Mas como estou a tentar ser uma pessoa melhor ou, sobretudo, diferente, aguentei-me e fui.

Não sou pessoa de meter conversa com ninguém e também não sou muito boa a manter toda uma conversa com estranhos mas, enquanto esperávamos pelo início do evento, consegui falar com duas americanas que me contaram muito mais sobre a sua vida do que aquilo que eu queria saber (uma tinha recebido uma factura do arranjo do carro ontem e precisava de um copo de vinho, à outra só faltava uma placa ao pescoço a dizer Eu sou a maior technical writer que alguma vez vais conhecer na vida.). Só eu sei como foi difícil manter o contacto visual e conseguir fazer alguma pergunta no meio de tanto bla bla bla.

No evento, estavam algumas empresas a recrutar para postos mais técnicos. A ordem de trabalhos era comida + bebida (mini sandes de tomate seco e fiambre, bolachinhas com creme de abacate, dois copos de tinto para mim) -> breve apresentação das empresas participantes -> uma espécie de speed interviewing, em que íamos passando pela mesa de cada empresa numa mini-entrevista de 5 minutos. Eu lá fui armada com os meus currículos e os meus cartões de visita e pronta para dar a volta à coisa, que eu na verdade não estou à procura de emprego. Percebi, antes das apresentações, que a maioria das pessoas que ali estava tinha formações mais técnicas e mais adequadas ao evento em si e isso fez com que eu ficasse ainda mais auto-consciente - mas afinal o que vim eu aqui fazer?

Logo na primeira entrevista, o rapaz diz-me que sim senhor mas só estão a contratar pessoas mais séniores. Na segunda, uma das entrevistadoras parecia aborrecida com o que eu estava a dizer, outra olhava constantemente para a porta. Promissor, pensei eu. À terceira, tive um bocadinho mais de sorte e apanhei três raparigas de três nacionalidades diferentes que gostaram que eu falasse muitas línguas. Primeiro (e único) ponto positivo da noite. Quando ia para a quarta entrevista, começaram a entrar outras pessoas e eu resolvi fazer uma pausa para mais uma mini sandes e um mini copo de vinho. Afinal, a pausa não foi pausa e eu resolvi pegar no meu casaco e voltar para casa.

Ainda assim, eu acho que valeu a pena. Fiquei a perceber como funcionam estes eventos, aprendi coisas sobre outras empresas, comi e bebi um bom tinto. Mas também me lembrei como não sou uma pessoa que sabe socializar. Não sei (nem quero, normalmente) meter conversa e depois mantê-la além daqueles segundos iniciais, não quero contar a minha história a estranhos, não quero que eles me contem a deles a não ser que me pareça interessante, não quero ter de abanar a cabeça quando o que me apetece dizer é Tu estás é cheio/a de tretas. Sou uma nódoa socialmente, eu sei. Não parecer descontraída, não sei relaxar, nem falar por falar. Sei só ficar ali a observar, em silêncio, até que alguém nos chama para começarem as actividades. Sei que estas coisas se trabalham mas também que é preciso querer. E eu não estou certa que quero. Não ajuda odiar pessoas no geral (menos os meus leitores, claro! ^^) mas isso fica para um outro post.