Primeira neve
Foi no Domingo. Os serviços de meteorologia já tinham colocado todo o país sob alerta amarelo, o que, no caso na zona onde vivemos, foi manifestamente exagerado.
Caiu todo o dia mas a temperatura do solo impediu que ela se acumulasse em grandes quantidades. Ao contrário do costume, a neve não chegou silenciosa e ouvimo-la bater nas nossas janelas, ao mesmo tempo que acumulava e se transformava em composições abstractas que não deixavam ver o céu.
Na manhã seguinte, os miúdos gritaram de excitação ao verem os poucos centímetros que restavam. Gritavam “Neve, neve!” à janela, enquanto viam nascer o dia. Quando saímos, uma breve decepção: a neve era, afinal, gelo. Nada daquelas camadas fofas das quais se podem fazer bolas mas apenas um resto de gelo que custava até a arrancar. Na nossa rua, uma senhora caiu depois de escorregar no pavimento gelado. Desci a rua para os levar à escola cuidadosamente e a Amália, pelo contrário e sem a mínima consciência de perigo, desceu a rua a grande velocidade na sua trotineta. A mim calhou-me a tarefa mais ingrata: raspar todo o gelo dos vidros do carro e esperar que o interior também descongelasse.
No final do dia, quase não restavam indícios de que tivesse mesmo nevado. Tenho a sensação de que cada ano que passa neva menos (alterações climáticas, anyone?) mas eu, uma assumida odiadora deste fenómeno meteorológico, não me queixo. Quanto menos vidros houver para degelar e quantas menos oportunidades houver para cair, melhor!