Um post sobre emigrar para o Luxemburgo, parte 2
(cont.)
Hoje quero falar sobre O assunto que mais vem à baila quando se fala em emigrar para o Luxemburgo.
QUALIDADE/NÍVEL DE VIDA
Devia chamar a este segmento simplesmente DINHEIRO mas a verdade é que há muito mais em jogo do que apenas o salário no final do mês. A maioria das pessoas tem esta ideia de que quem emigra para o Luxemburgo fica imediatamente rico. E bem, spoiler alert, isso não é verdade. Há, aliás, muitos casos na comunidade portuguesa do Luxemburgo em que a situação financeira piora por diversas razões mas já lá iremos.
É-se bem pago, no Luxemburgo? A minha resposta imediata seria sim, mas é claro que (como em todo lado) dentro dos diferentes sectores há diferentes níveis de remuneração e, portanto, uma pessoa com os mesmos conhecimentos e experiência que eu pode ganhar mais ou menos, depende muito do empregador. Sinto que as empresas luxemburguesas tendem a pagar melhor do que as multinacionais mas não passa de um palpite.
O salário mínimo está um pouco acima dos dois mil euros, o que pode parecer uma enormidade para quem vive em Portugal, por exemplo. Mas é preciso pôr as coisas em perspectiva: se eu disser que a renda de um estúdio com uns 30m2 em plena capital pode custar mais de mil e quinhentos euros por mès, vocês começam a perceber porque é que dois mil euros não é muito dinheiro. Depende, obviamente, da situação de cada um: do estado civil, da idade, se temos filhos ou náo, se queremos viver no centro do país ou se não nos importamos de morar mais longe.
Pagam-se muito impostos aqui. Para terem uma ideia, pago mais de impostos do que o ordenado líquido que ganhava em Portugal. Mais uma vez, depende do escalão em que estamos e se fazemos os descontos em conjunto (no caso de estarmos casados/unidos de facto) mas continua a ser muito dinheiro. Qual é a contrapartida disto? Vemos os nossos impostos transformarem-se em melhorias na nossa comunidade e na nossa vida. As escolas estão no geral bem equipadas e preparadas para lidar com as estações; os hospitais estão bem equipados e conservados (mesmo que faltem trabalhadores qualificados); há investimento público sempre a acontecer (não me lembro de ver estradas degradadas na comuna onde vivemos, por exemplo e se algumas mostram sinais de desgaste, logo vem o serviço técnico para repor o tapete); os serviços comunais e do estado funcionam na sua maioria bem, tanto online como presencialmente (não me lembro de alguma vez ter esperado mais do que cinco minutos para ser atendida na nossa comuna). Até nas pequenas coisas sinto que o meu dinheiro conta, como por exemplo nos canteiros de jardim espalhados pelo bairro, em que as flores são mudadas conforme a estação e mantidas religiosamente durante todo o ano.
Pode ser um pouco caro fazer compras de supermercado aqui mas tudo depende do sítio onde escolhemos comprar. Há marcas alemãs (Lidl e Aldi) onde os produtos são mais baratos, há marcas belgas onde também sai em conta comprar (Delhaize), há marcas francesas um pouco mais caras (Auchan) e depois há os luxemburgueses onde as compras saem mais caras mas também onde há mais probabilidade de encontrar produtos de qualidade. E depois, não podemos esquecer, há o facto de estarmos num país minúsculo e podermos fazer compras nos países fronteiriços. Já tivemos dias em que fomos comprar as mercearias à Alemanha para depois atravessarmos o Luxemburgo e passarmos para a Bélgica para comprar algumas coisas para a casa, tudo numa tarde. Não há falta de escolha para as diferentes carteiras mas confesso que é difícil, mesmo oito anos depois, não comparar com os preços em Portugal e sonhar com bananas a 0,99€ o quilo…
Mas falemos na comunidade portuguesa no Luxemburgo.
Visto aqui
Há algum tempo que não ouço histórias tristes sobre os emigrantes portugueses que partem em direcção ao Luxemburgo mas houve uma altura em que elas se multiplicavam. Muita gente arriscava vir sem qualquer contrato de trabalho, muitas vezes sem qualificações e apenas contando com o apoio de familiares que já cá estavam. Outras pessoas vinham contratadas por empresas portuguesas a operarem aqui para depois serem exploradas e muitas vezes abandonadas sem meios de regressar a casa. Grande parte da população portuguesa no Luxemburgo trabalha nos serviços de limpeza e na construção civil, não é possível negar. São pessoas que trabalham muitas vezes sem contratos de trabalho, ao sabor das necessidades do mercado e, por isso, sem a protecção social adequada. São pessoas que trabalham em condições duras, longas horas por dia mas que nem por isso baixam os braços, embora estejam constantemente ameaçadas pelo risco de pobreza e pela falta de condições.
Não é fácil ser português no Luxemburgo. Constituímos uma fatia considerável da população activa, temos tendência a viver em comunidade e, em muito sítios, parece mesmo que estamos em Portugal (ruas inteiras onde todos os espaços comerciais são de portugueses, por exemplo, e onde é possível movermo-nos falando apenas a nossa língua). Mas nos últimos anos foram chegando também pessoas mais qualificadas, a ocuparem lugares de destaque nos serviços financeiros, nas tecnologias ou nas instituições europeias. Espero que um dia possamos todos ser vistos apenas como pessoas e não como as ideias batidas: o meu primeiro chefe aqui não dava os horários da manhã a portuguese porque já se sabem, os povos do Sul da Europa são preguiçosos e não gostam de ser levantar cedo…
Em suma, a qualidade de vida é alta no Luxemburgo. Nós nem ganhamos nada de especial mas sentimos que podemos viver sem sufocos aqui, por isso nem quero imaginar aquela malta que ganha mesmo bem. E é bom sentir que as nossas contribuições fazem a diferença e que há alguém a velar pelo nosso bem estar e pela nossa qualidade de vida. Agora, se ao menos nós pudéssemos sentir o mesmo em Portugal…
(to be continued)