Lisboa -> Alter do Chão
(Ainda valem posts das férias, dois meses depois? É para uma amiga…)
Campos amarelos a perder de vista. Temperaturas sempre a quererem chegar aos quarenta graus. Cavalos e éguas, gatos bebés, andorinhas num sítio onde o silêncio ainda parece existir (se não contarmos com os nossos gritos a tentar impedir que os nossos filhos fugissem campo fora…).
Agora tenho saudades da coudelaria de Alter. Lembro-me de uma excursão que fiz, ainda andava na escola primária (deve ser mesmo umas das minhas memórias mais antigas). Lembro-me que fazia muito calor e que comecei a sangrar do nariz perto de um estreito canal de água ou de um pequeno ribeiro. Não me lembro de cavalos, ironicamente.Voltar foi viajar também no tempo.
A coudelaria de Alter está transformada num hotel, de onde é possível nem sair. Passámos os nossos dias na piscina, evitando espaços fechados e cruzarmo-nos com demasiadas pessoas. Tentámos cansar os miúdos ao máximo com brincadeiras e saltos para a piscina e falhámos redondamente: quem acabava sempre exaustos éramos nós.
Quase adoptãvamos um gatinho bebé que estava perdido debaixo de uma figueira. Num dos dias, deixámos-lhe os restos do nosso almoço e aquele gatinho provavelmente nunca mais se esquecerá do sabor a bacalhau à brás! Os miúdos sonhavam com os momentos do dia em que o íamos ver e obrigavam-nos a ficar largos minutos perto da oliveira se por acaso o gato tivesse subido e estivesse com medo de descer. Os pedidos para termos um animal de estimação tornaram-se insuportáveis e difíceis de recusar (um post sobre isto mais lá para a frente…).
As refeições foram tudo menos pacíficas: acho mesmo que os empregados do restaurante devem ter ficado aliviados quando perceberam que a nossa estadia tinha acabado, tal era o nível de gritaria que conseguíamos a cada refeição. Com tantas limitações próprias deste momento (COVID, como te odiamos!), foi super difícil mantê-los quietos nas suas cadeiras e sem tocar apenas naquilo que era absolutamente indispensável. Lembro-me sempre de um livro que li sobre educar crianças em França: no capítulo da comida, além da autora descrever a maravilha que é ter filhos que provam todos os novos alimentos ao menos uma vez, ela descrevia também a experiência de levar os miúdos a um restaurante e de como isso fazia parte daquela cultura. Eles, habituados desde pequenos, comportavam-se como pequenos adultos, sossegados nas suas cadeiras, muitas vezes entretidos apenas com um pedaço de pão. Falhámos nesse capítulo, admito.
Estivemos no meio de muitas, muitas éguas numa visita guiada muito simpática. Visitámos os cavalos atletas e os campeões da reprodução. Se a Amália pudesse, tinha metido um ou dois dentro do carro para os trazermos para casa. Podiam ficar no nosso quintal!, argumentava ela.
Acabámos a maioria dos dias estafados mas acho que foram bons dias a cinco. Pudemos dar-lhe uma sensação de liberdade que, durante este tempo de distanciamento e de medo geral de tudo o que não sabemos ainda, lhes fez muito bem. Saltámos de mãos dadas para a água, num campeonato de saltos patetas. Comemos cremes de legumes à beira da pisicina, ainda cheios de cloro. Eles escorregaram mil vezes para a água, nós fomos dando mergulhos à vez. Não vejo chegar os anos em que eles todos sabem nadar e nós podemos apenas ficar a vigiá-los no conforto duma cadeira, um bom livro e quem sabe um cocktail daqueles com sombrinha…