Vicente, uma década de vida

Há dez anos, exactamente na hora a que este post é publicado, nasceu Vicente Mauricio Tavares, antes conhecido como feijãozinho ou o cavalinho cujo coração cavalgava junto do meu. Quanta alegria (e desorientação…) naquele sala de partos na freguesia de Santa Maria dos Olivais, onde nascia o alfacinha que tinha desejado alentejano!

É dificil falar sobre o que é ser mãe há dez anos e, se por um lado tudo parece ter levado uma eternidade a acontecer, por outro parece-me que num piscar de olhos passámos de uma família de três para uma família de seis (sim, porque o Perinha também conta!). Eu tornei-me noutra pessoa, parece-me inevitável que isso aconteça quando chega um filho ao mundo. E digo que me tornei numa outra pessoa para o que isso tem de bem e o que isso tem de mal porque se há coisas que a maternidade me trouxe foi uma visão bem clara (e às vezes assustadora) das minhas fraquezas.

Vicente. Um nome de fadista, um nome da moda no ano em que ele nasceu, um nome que nos levou um tempo a decidir, entre listas descarregadas dos registos notariais para tirar ideias e para conseguirmos chegar a um acordo. O Vicente é o que vai à frente, é o que sofre para os mais pequenos terem tudo fácil, é o desbravador. Sempre cheio de curiosidade, incansável quando quer uma coisa, irascível quando não a consegue (tal e qual a sua mãe…). É um comunicador nato, muito elogiado por outros pais por saber manter uma conversa interessada e coerente. Sempre dissemos que quando ele começasse a falar, nunca mais se ia calar e oh, como tivemos razão!

É um menino a sério, sem que nunca tenhamos forçado esse conceito e que tenhamos de o lembrar muitas vezes que não há música para homens e mulheres (como uma vez nos disse) ou que cada um veste o que quer e usa o cabelo como quer, liberdade e tolerância são fundamentais. Sempre gostou de tractores, moto-quatro, dinossauros, futebol mas curiosamente parece manter mais amigas do que amigos. É bom aluno mas começa a dizer que não gosta da escola (na verdade, aborrece-se muitas vezes porque aprende rápido e também é muito preguiçoso, por isso esse não gostar está mal explicado). Fala quatro línguas e ainda compreende mais uma, e por isso está a caminho dum futuro plurilingue (obrigada, Luxemburgo!) que espero cheio de sucesso.

Interessa-se pelo mundo, pelas notícias e pelas descobertas, percebe-se quando tenta fazer sentido sobre as coisas que vê ou lê e a televisão é a maneira favorita de aprender. É preciso obrigá-lo a sair do sofá mas basta acenar-lhe com uma bola ou uma bicicleta e ele levanta-se sem hesitar. Já começou a ir ao parque sozinho: sem telemóvel, só com um relógio meu para saber a que horas deve voltar para casa e cumpriu em todas as vezes. Vai para a escola sozinho todas as manhãs e já começa a falar em ter as chaves de casa para o regresso também.

Adora a sua família com fervor, embora isso nem sempre se note na relação que tem com os irmãos: protege-os e brinca com eles mas a diferença de idades mete-se muitas vezes no caminho. Parte-me o coração quando diz que gostava que voltássemos a ser só nós os três porque é claro que gostaríamos de ser pais únicos para cada um deles e dar-lhes todo o nosso tempo, sem dividir atenções mas somos seis e o resto da família está longe e por isso temos de estar os seis juntos na maior parte do tempo.

Vicente que nos ensinou a ser pais, que nos tirou do sério e esticou os limites muito além do aceitável, que nos transformou o coração para sempre, que foi esperado e desejado e celebrado, que nos enche de orgulho e (às vezes) de nervos, que nos dá o prazer de o ver crescer, aprender e de crescer também com ele porque pais e filhos vão sempre assim, lado a lado.

Saudades de um Vicente bebé? Tenho muitas mas vou-me consolando com um homenzinho cuja personalidade se tem vindo a formar e transformar a olhos vistos. Quem me dera viver para sempre para estar sempre ao seu lado.

(Se não eram leitores à data, podem ler o post do anúncio da gravidez aqui ou o do nascimento aqui. No meio, a história de uma gravidez feliz.)