Um gato chamado Perinha
Era uma vez um gatinho preto, nascido numa quinta em França. Os donos não podiam ficar com ele e com a sua irmã. E eis que, depois da ajuda de uma amiga de uma colega de trabalho e uma viagem de quatro horas dentro de uma caixa de transporte, este gatinho entrou na nossa casa.
Já o disse noutros sítios: eu não sou uma pessoa de animais. Gosto de vê-los mas normalmente ao longe, sentia-me desajeitada para tratar de mais um filho, agora de quatro patas. Abomino as pessoas que os maltratam ou abandonam quando tratar deles já não lhes convém. Mas também não queria acrescentar mais responsabilidades aos três filhos que já temos, o tempo já nos falta para fazermos coisas de que gostamos.
Mas os pedidos tornaram-se insuportáveis. Bastava verem um animal qualquer (um cão, um gato, uma vaca…) e logo tínhamos que perder longos minutos para eles poderem ver/mexer/adorar. Ela já chorava porque nós não permitíamos nenhum animal em casa e a amiga Sofia tinha logo duas gatas. Passaram de querer um animal de quatro patas para pedirem um peixinho que fosse, só para dizerem que tinham um animal de estimação. O pai, um homem prático e despachado, estava do lado deles há muito tempo e ia ameaçando que ia arranjar um coelho ou que ia conseguir um cão - aparentemente, só eu estava a impedir esta família ficasse ainda mais feliz com um animal de companhia.
E então eu cedi. Um dia antes de deixarmos o hotel em Alter, quase sugeri ficarmos com o gatinho perdido. Fiquei, aliás, arrependida de náo o termos feito mas faltou-me a coragem para assumir essa decisáo. Depois, um dia antes de voltarmos ao Luxemburgo, vimos um post em que alguém tinha imensos gatinhos para dar em Portalegre e ainda dissemos E se… mas era tarde demais: faltavam poucas horas para fazermos a viagem, não tínhamos nenhum material para transportar ou dar de comer ao gatinho, náo ia haver tempo de ver um veterinário. Eu cá não parava de pensar que eram sinais de que sim, a coisa estava prestes a dar-se.
E deu-se mesmo, não muito tempo depois do nosso regresso. Veio de França, o nosso gatinho e quando chegou a casa, os miúdos gritaram de alegria. A Amália só perguntava Mas é um gato verdadeiro?! e eu ria-me com a felicidade deles. O nome foi fácil de decidir e por unanimidade: o nosso gato chama-se Perinha, em homenagem a outro gato com o mesmo nome que os miúdos se habituaram a ver nas visitas aos avós.
E agora pronto, sou aquela pessoa que tem o telefone cheio de fotografias do seu gato. Que o fotografa a dormir derrangado do sofá e em cima do teclado do meu computador e à janela no quarto dos miúdos. Preocupo-me muito com ele: será que está a comer o suficiente? Não estará a dormir demais? O que podemos fazer para que não se sinta deprimido? E tenho aprendido muito sobre gatos e sobre ter animais no geral. Os miúdos fazem tudo com ele na cabeça e gritam de alegria se por acaso chegam a casa e o vêem no parapeito da janela. Temos de os afastar dele muitas vezes ou ainda o esmagam de tanto amor e também de os separar porque, claro, agora é a vez de alguém pegar-lhe ao colo. Divertimo-nos a vê-lo a brincar com os seus brinquedos de gatinho, derretemo-nos com o ronronar de cada vez que lhe fazemos festinhas, gostamos que eles nos faça companhia pela casa fora.
Os miúdos compreendem o que é necessário para cuidar de um animal, valorizam as vidas de outras espécies e eu sempre tenho um tapete quentinho a dormir ao meu colo enquanto acabo o dia de trabalho. Se me dissessem há três meses que íamos ter um gato, eu batia o pé e dizia náo. Como nos podemos enganar!