Augusto, quatro anos de vida

Estava muito, muito frio. O termómetro marcava -10º mas não me lembro de haver neve lá fora. E às 10:30 da manhá do dia dezanove de Janeiro de 2017 nascia o Augusto.

Foi a segunda vez que passei por um parto completamente sozinha: o pai precisou de ficar com os outros filhos nessas duas vezes e eu tive que me desenrascar em duas maternidades diferentes, numa língua diferente. Mas no dia em que o Augusto nasceu, ainda houve outra coisa diferente: eu estava grávida de trinta e cinco semanas e, portanto, ele era prematuro. Assim que ele chegou ao mundo, disseram-me para lhe dar um beijinho e levaram-no numa incubadora. E eu fiquei sozinha, sem filho depois de o ter parido.

Um parto às trinta e cinco semanas está muito longe de uma tragédia. Na prática, ele ficou na neonatologia durante uma semana apenas para cumprir calendário e por precaução. Se tivesse nascido quatro dias depois, já com trinta e seis semanas, a história tinha sido outra e eu não teria conhecido os sinos dos monitores, o calor da incubadora, os biberões pequeninos que lhe enchiam a barriga. Passei uma semana no hospital, a acompanhá-lo e a extrair leite religiosamente de três em três horas, dia e noite, até sairmos do hospital com três litros de leite numa geladeira. Ao terceiro dia, ele saiu da incubadora para uma cama aquecida e tudo se tornou mais fácil de suportar. Por saber como me senti naquela semana, encho-me de admiração pelo sacrifício e esforço dos pais cujos bebés chegam muito, muito antes do tempo, lutando pela sua sobrevivência naquele ambiente esterilizado.

Estava doente antes do parto e, com o esforço cujos pormenores guardo para mim, perdi a voz. Enquanto estive no hospital, usei máscara em todas as vezes que entrei na neonatologia para não espalhar germes ou vírus àqueles pequeninos guerreiros, sempre tão bem tratados. E lembro-me de me sentir tão limtada, de não poder beijar o meu bebé a toda a hora, de ter de controlar a vontade insuportável de tossir. Mal desconfiava eu…

Fast-forward para quatro anos depois. O Augusto anda na pré-pré-primária e tem a mesma professora que os irmãos tiveram. É popular na escola entre grandes e pequenos e a professora confessa que, se não fosse o charme dele, era muito difícil lidar com a teimosia dele todos os dias. Ainda ontem a professora me enviou um e-mail depois das aulas, queixando-se duma coisa que nós sabemos bem aqui em casa: ele não ouve ninguém e, quando ouve, só toma nota do que lhe convém. Foi uma bela maneira de iniciar a contagem decrescente para os quatro anos…

Fora isso, o nosso Gustinho tem um coração enorme e tenta abraçar os irmãos sempre que pode, mesmo que estes não o deixem chegar muito perto. Até há pouco tempo, acordava sempre com um sorriso na cara mas ultimamente quer continuar a dormir e não raras vezes faz uma pequena birra porque não sabe o que quer comer. Mas, em sua defesa, as suas birras nunca duram muito tempo e é o mais fácil de recuperar daquele estado de birra que deixa os miúdos do lado de lá.

Já vai falando Luxemburguês (parece-me o mais precoce dos três) e fala bem Francès e Português. As suas coisas preferidas são os bonecos animados do Jurassic World, a Patrulha Pata, pizza, sopa, bananas, brincar com super-heróis e bater com coisas barulhentas em todo o lado. Não tem jeito nenhum para pegar no Perinha mas gosta de o fazer para o entregar aos irmãos. Ainda gosta de colo, de saltar e trepar por todo o lado e da escola. Quando não gosta de um colega (o que é raro), (infelizmente) não se contém e diz-lhe em voz alta e para todos os outros colegas e pais ouvirem…

Nunca desejei três filhos. Na minha cabeça, dois era o número ideal e é compreensível: um pai e uma mãe chegam para dar conta dos dois. Mas o Augusto veio animar esta casa, veio desiquilibrar o barco, veio com muitos beijinhos e abraços para dar. E veio com um coração gigante, não é por eu ser mãe dele, com amor de sobra pelos outros. E pronto, a família ficou completa com a chegada dele, só me ficam a faltar braços para pegar nos três ao mesmo tempo. Há quatro anos atrás, Trump subia à presidência e eu esperava pela alta do hospital. Este ano, Biden sobe à presidência e todos esperamos pela alta desta loucura toda. Mas um sorriso do Gustinho ajuda a esquecer <3