2021 > 2020

Quase consigo ouvir o suspiro colectivo, mundial, universal que o fim deste ano traz. Há muitas pessoas para quem este ano foi terrível, há outras pessoas que tiveram quase o melhor ano de quem têm memória, há quem acabe o ano a sentir-se assim-assim.

Nós fomos (felizmente) poupados ao sofrimento individual: não perdemos o nosso emprego, não ficámos doentes nem ninguém da nossa família ficou doente e as pessoas que conhecemos e adoeceram não desenvolveram as piores formas da doença. Continuamos a ter um tecto sobre a nossa cabeça, comida na mesa, mantivemo-nos em contacto com família e amigos.

Mas eu não pude escapar ao sofrimento colectivo. Chorei no primeiro dia em que passei pelas escolas fechadas, chorei a ver as cidades vazias e os hospitais a transbordar, chorei a ver o desespero de quem ainda não sabia lidar com este vírus, chorei com a ideia de acesso limitado aos supermercados. Chorei a ver os números a aumentarem exponencialmente, chorei nas noites consecutivas em que só existiam notícias sobre o vírus. Foi doloroso e ainda é doloroso assistir à vida nos países que decidiram ignorar o perigo desta pandemia.

Hoje fui ler as minhas resoluções para 2020 e ri-me, claro está. Uma delas era “Sair mais de casa”, o que só por si é hilariante. Outras implicavam um espaço mental que não existiu durante estes últimos dez meses.

Numa das últimas chamadas de trabalho em que participei, uma colega disse que 2021 não poderia ser pior do que este ano. E eu ri-me e disse-lhe que todos sabemos que, depois de tudo o que aconteceu este ano, 2021 pode ainda ser muito pior. A caixa de Pandora abriu-se este ano e agora vai ser difícil enfiar tudo novamente lá dentro.

Apesar de não querer fazer nenhuma resolução e de saber que os nossos planos não valem nada face a um acontecimento como este, só quero fazer promessas a mim mesma: acreditar sempre na ciência; não confiar cegamente na humanidade; procurar sempre mais e melhor informação; deixar a vida rolar, sem planos, sem pressas e sem grandes decepções; celebrar as pequenas vitórias e partilhar os momentos de tristeza.

Saúde e liberdade de movimentos, é o que desejo para todos. E que nos possamos (re)ver muito, muito em breve! Feliz Ano Novo!