2020, um balanço: uma desilusão

Este ano, em vez de escrever um post de reflexão sobre o ano que está quase acabar, resolvi fazer toda uma série de posts, com algumas coisas que me fizeram feliz, outras que me deixaram indiferentes e ainda as que me deixaram de rastos.

Um podcast que nunca aconteceu

Em Dezembro de 2019, veio-me uma ideia à cabeça: que tal começar um podcast? Há uns anos que ouço alguns podcasts regularmente, de temas variados, em línguas diferentes e a ideia de poder conversar com outras pessoas sempre me pareceu interessante. E depois, juntei a isso a ideia de que não tinha ainda ouvido nenhum podcast sobre parentalidade em Português. E cheguei à minha ideia final: um podcast em que pais e mães conversavam sobre como era ter filhos.

Queria fazer uma coisa bonita e por isso pedi a amigos (olá J. e olá M.!) para me ajudarem com a música e o grafismo e tudo fazia sentido. Tinha um tema, tinha separadores, tinha uma imagem e só me faltava o conteúdo.

Fiz um ficheiro todos bonito, com a lista das pessoas com quem gostava de conversar, possíveis temas, as perguntas condutoras dos episódios, o calendário das entrevistas. E cheguei mesmo a gravar duas delas (olá A. e olá C.) , mães que emanam inspiração por todos os lados. Perguntei mesmo a outras pessoas se estariam interessadas em participar para começar a perceber como me podia organizar.

Mas corria o ano de 2020, como sabem. E havia uma pandemia a acontecer. Eu estava a dividir o meu tempo entre tomar conta dos miúdos a 100% e a tentar trabalhar a partir de casa, mantendo o olho neles simultaneamente. Percebi rapidamente que não percebo nada de edição de som (nem video, vá edição no geral), sobrava-me muito pouco tempo para aprender sozinha e não queria publicar coisas sem qualidade. E depois ainda comecei a lutar com aquele síndrome do impostor: quem é que eu pensava que era para lançar um podcast sobre parentalidade?

Falhei e a vergonha fez-me enterrar esta ideia bem fundo na minha cabeça. Senti-me mal por não ser mais inteligente e ter começado a dominar as ferramentas necessárias rapidamente; senti-me mal porque mal conseguia arranjar tempo para gravar sem que os miúdos me entrassem escritório adentro aos gritos; senti-me mal por achar que não tinha nada de interessante a adicionar ao mundo, mesmo que os meus convidados sim; senti-me mal porque se calhar o tema era um bocado redutor e eu queria era falar com pessoas interessantes sobre as vidas delas, não só sobre a maneira como vivem a parentalidade.

Um ano depois, aqui estou: a fazer uma catarse pública, cheia de remorsos e de vergonha da minha inaptidão e falta de insistência mas também hiper consciente das minhas limitações pessoais e das limitações impostas pelo raio da pandemia. E no fundo acho que não desisti totalmente mas, depois do shitshow que foi este ano, recuso-me a fazer prognósticos porque esses, toda a gente sabe, são melhores no fim do jogo.