Borboletas na Barriga

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Rumo a um bocadinho de liberdade: 1/2

Esta semana fui vacinada com a primeira dose de AstraZeneca!

Eu sei, eu sei: as pessoas estão assustadas com esta vacina. Há alguns relatos menos felizes de pessoas (e sobretudo mulheres) que definitivamente não acabaram bem. Mas muitas pessoas se esquecem que isto pode acontecer com qualquer das outras marcas, com os medicamentos que tomamos com alguma regularidade, com a pílula… Mas vamos por partes.

Depois desta confusão toda com esta vacina, o Luxemburgo decidiu suspendê-la durante uns tempos, retomando-a quando a EMA declarou que os seus benefícios superam os riscos. Mas, resultado de um tratamento irresponsável da parte de alguns governos e de alguns orgãos de comunicação social, algumas pessoas começavam a recusar esta vacina. Para evitar desperdícios, o governo decidiu abrir uma lista de espera a voluntários entre os 30 e os 50 anos que se dispusessem a ser vacinados com AstraZeneca.

Apesar de tudo, o site quase crashou no dia em que ficou online, tal era a procura. Nós tínhamos discutido aqui em casa e tínhamos decidido tentar a nossa sorte. Então, e não tiveste medo, perguntam vocês? Claro que tive, bastante até. Mas a parte racional que há em mim foi um pouco mais forte e ganhou. Às sete da tarde duma sexta-feira, estávamos os dois inscritos mas sem certeza: a ideia era que quem chegasse primeiro seria vacinado em primeiro, dependendo das doses existentes.

A surpresa chegou-nos à caixa do correio na terça-feira seguinte: um convite para agendar a nossa vacinação! Não coube em mim de contente: estávamos a caminhar a passos largos para um Verão um pouco mais normal. Agendámos ambos para a semana seguinte e não pensei muito mais nisso.

O dia chegou. Cheguei a horas ao pavilhão desportivo que converteram em centro de vacinação, tudo super bem organizado, sem multidões, com o devido distanciamento social. Tinha levado um livro mas tive pouco tempo para ler antes de ser chamada para uma cabine. A pessoa que me atendeu (e digo pessoa em vez de médico ou enfermeiro porque aqui recrutaram também outros profissionais para ajudarem na vacinação, como fisioterapeutas ou farmacêuticos) explicou-me como tudo se ia desenrolar, aconselhou-me a medicação pós-vacina, mencionou os possíveis efeitos secundários, entregou-me o certificado de vacinação e plim!, vacinou-me!

Esperei fora da cabine durante trinta minutos para prevenir possíveis reacções adversas (vim um senhor a desmaiar, por isso toda a precaução é realmente pouca…) e fui à minha vida. À saída, ofereciam uma caixa de máscaras, como quem diz Agora estás meio vacinada mas não te esqueças de continuar com isto… Tinha tirado dois dias de férias para o caso de precisar de me recompor e lá voltei a casa. Passei esse dia tranquilamente em casa e pensei que o meu sistema imunitário talvez não fosse pregar-me uma partida.

Quão enganada podia estar? Muito enganada, como se revelou no dia seguinte. Doía-me o corpo todo, na cabeça parecia que me tinha aterrado uma bigorna, trinta e oito de febre, pouca vontade de comer. Eu pensava que estava pronta para isto mas não estava à espera da intensidade da coisa. Passei o dia na cama, a enfiar Dafalgan fortes de 8 em 8 horas e a delirar. Sim, acho que cheguei mesmo a delirar, sem conseguir verdadeiramente dormir mas sem me conseguir manter em pé. No dia seguinte, a coisa estava um pouco mais fácil de gerir: algumas dores no corpo mas a dor de cabeça tinha desaparecido, deu para trabalhar um pouco. Pensei que Sábado já estaria fina mas enganei-me (mais uma vez): grandes tonturas desde que acordei, a sensação permanente que ia desmaiar, o coração a disparar de cada vez que relia os efeitos muito graves mas muito pouco frequentes, sempre â procura de manchas na pele ou de inchaços nas pernas, a minha ansiedade a levar a melhor de mim.

Eis-me chegada a domingo. Não sinto que possa dizer que recuperei a 100%. Deste ontem que faço a minha vida normal mas parece que ainda estou meio na lua. Felizmente, nada me dói, náo tenho febre, talvez algumas náuseas, mas pouco mais. É necessária a vigilância nestas duas semanas mas só já penso na próxima dose. Li que a segunda provoca menos efeitos do que a primeira e estou a cruzar os dedos com muita força para que seja verdade!

Sei que muita gente não teve ainda sequer a possibilidade de saber quando seria vacinada e muito menos de saber com que vacina mas a minha mensagem náo muda: vacinem-se quando puderem! Ninguém está livre destes efeitos secundários (mais ou menos graves) mas isso já acontece com os medicamentos banais, com os momentos em que atravessamos a rua ou no potencial de cair na banheira. As vacinas funcionam, já se vêm os resultados no decréscimo do número de mortes e nas camas dos hospitais que ficam por ocupar. Agora com licença, vou tratar de me recompor e preparar para o segundo round!